quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Uso de chupeta pelo bebê

Ora aliada dos pais contra o choro da criança, ora a vilã responsável pela interrupção no aleitamento materno. Assim, entre a cruz e a caldeira, a história da chupeta faz parte da vida das famílias há mais de três mil anos. Na semana passada, a divulgação de um estudo argentino no Brasil reacendeu a polêmica envolvendo o seu uso. A análise feita por cinco hospitais de Buenos Aires concluiu que o acessório não prejudica a amamentação - como alega a maioria dos pesquisadores -, desde que a sua introdução aconteça após 15 dias do nascimento do bebê
Segundo o trabalho, divulgado no Simpósio Internacional de Neonatologia, que aconteceu em São Paulo, de 12 a 14 de março, depois desse período a chupeta não interfere no aleitamento materno porque o vínculo entre mãe e bebê já está estabelecido. “Quinze dias foi o tempo que consideramos necessário para fortalecer a dinâmica da amamentação. E é isso que garante a duração do aleitamento materno”, ressalta um dos coordenadores do estudo Néstor Vain, diretor do Departamento de Pediatria e Neonatologia da Maternidad Palermo, Sanatório de la Trinidad, de Buenos Aires.
Partindo de uma amostra de 1.021 recém-nascidos não prematuros de dois hospitais públicos e três privados da capital argentina, a análise aconteceu entre novembro de 2005 e maio de 2007. As crianças foram divididas em dois grupos. Para metade delas, a chupeta estava liberada a partir do décimo quinto dia de vida e, para a outra metade, pediu-se que não fosse feito uso do acessório. O resultado foi idêntico: em ambos os grupos a mesma porcentagem de mães conseguiu garantir que seu bebê fosse alimentado exclusivamente por meio da amamentação.
O estudo contesta pesquisas anteriores realizadas em diversos países desde 1993 e que indicam a chupeta como uma das principais responsáveis pelo desmame precoce. “O movimento de sucção do leite é diferente daquele feito com a chupeta. E o formato dos bicos pode deixar a criança confusa. Por isso, ela tende a desistir daquele que exige mais força, ou seja, o do peito”, explica Débora Passos, pediatra neonatologista do Hospital Santa Joana, em São Paulo.

Chupeta liberada?
Na opinião da médica, é preciso cuidado na interpretação do trabalho. “Ele não é um aval para o uso do bico de plástico. Deve-se considerar que a amostragem não representa a maioria das mães”, diz. Participaram da pesquisa argentina apenas mulheres que desejavam amamentar por, no mínimo, três meses, possuíam todas as condições para fazê-lo – disponibilidade de tempo e informação adequada de como proceder diante das primeiras dificuldades, que costumam ser bastante comuns - e não tinham ainda uma opinião formada sobre o uso do acessório. “No dia a dia, sabemos que esse grupo representa uma minoria”, explica Débora.
Vain acredita que foi justamente o isolamento desse grupo o que permitiu aos pesquisadores levantar uma questão importante: “será a chupeta que reduz o tempo do aleitamento materno ou ela apenas indica as dificuldades da mãe para amamentar?”, relativiza.
Se o uso da chupeta está liberado? Para Vain, apenas em parte. “Se a mãe está amamentando normalmente não tem porque temer o acessório”, diz. Já Débora acredita que o uso deve ser restrito a casos especiais como em momentos de dor, para o bebê com dificuldades em pegar no sono ou pacientes neurológicos, situações em que o acessório pode ter efeito terapêutico principalmente contra a hiperatividade ou o choro contínuo. “Não podemos esquecer ainda dos outros malefícios da chupeta: alterações no paladar, na arcada dentária e até na fala”, lembra

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